quinta-feira, 22 de setembro de 2011

Por que as pessoas são tão aproveitadoras?

Adriana Tanese Nogueira
 

A resposta à pergunta por que as pessoas se aproveitam da gente é "Porque permitimos que o façam". Ocorre um problema sério com algumas pessoas boas que gostam de pessoas: elas insistem em ser disponíveis e generosas obtendo como resultado ser sempre mais usadas e desrespeitadas. Quando despertam para a realidade se sentem traídas, tristes e decepcionadas. Muitas tendem a endurecer no ressentimento; outras se deprimem sem saber como reagir de forma a salvar seja sua bondade que a confiança nos outros.

Numa cultura onde feminino e masculino vivem divorciados, coração e inteligência não se conversam. Nesse contexto ser bom geralmente significa ser tolo e vulnerável. Quantas pessoas espertas vocês conhecem que podem chamar de boas? E quantas pessoas boas podem nomear que são espertas? Estou falando de pessoas boas, não das sonsas. Ser bom é fazer e dar sem pedir nada em troca; ser sonso é ser dócil para conseguir algo em troca.

Pessoas boas geralmente lidam ou com gente subrrepticiamente egoista (as sonsas e
miopes) ou com as explicitamente egoistas (as autoritárias e insensíveis). Continuar sendo disponíveis com pessoas assim não vai tornar essas pessoas repentinamente melhores, como se pudessem receber uma iluminação improvisa e fossem ficar com vergonha de terem se aproveitado de alguém por tanto tempo. Não, muito pelo contrário: dar sem receber alimenta o egoísmo do outro. Generosidade cega nutre o aproveitamento alheio. A disponibilidade incondicional dá suporte à prepotência do outro.

A alternativa é ser inteligentemente bons. Unir a cabeça ao coração e, consequentemente, abrir os olhos. Pessoas incluem em si um emaranhado de motivos, tendências, problemas e intenções. Quando se é bons: exatamente com o que se é bons? Com qual intenção, tendência, comportamento do outro estamos sendo bons? Quando dizemos "sim", o que estamos apoiando no outro? E o nosso "não" põe limites no que exatamente do outro? 

Essas perguntas se respondem com outras perguntas: O que queremos incentivar? Quais são nossos valores? Que relação queremos? E sobretudo: o "sim" e o "não" que eu digo ao outro já os disse antes para mim mesma?

Uma mulher que faz tudo o que o marido quer, está alimentando o egoismo dele. Ele chama isso de "amor" e ela também, mas a verdade é que ela é submissa e ele é prepotente. Ela é incapaz de assumir suas necessidades, tem medo dele e das consequências e ele pouco se importa com o que ela precisa. Resultado: não há amor. Para chegar a essa situação, ela disse "não" a si mesma antes de sofrer o "não" silencioso dele. Ele por sua vez, disse "não" à própria sensibilidade para tratá-la desse jeito. Ele não a enxerga e não quer enxergá-la. Ela está criando um tirano, ele uma escrava.

O fato de permitir o comportamento do outro não é sinônimo de bondade, mas de passividade e inconsciência. Há atitudes que devem ser paradas. Muitas vezes, as pessoas sequer se dão conta do que fazem e jamais irão aperceber-se até não encontrarem um obstáculo na sua frente. Esse obstáculo é você quando diz "não". E esse "não" tem que ser tanto mais firme quanto mais intensa for a tendência alheia ou quanto mais antigo for o comportamento que se quer modificar.

Nisso, meu cachorro ensina maravilhosamente bem. Não é culpa dele se é um Rottweiler apaixonado pela vida, cheio de energia e entusiasmo. Não é também culpa dele se é um líder cabeçudo querendo orientar o bando. Para que nos relacionemos bem, eu preciso usar uma força física (segurá-lo) e firmeza (psicológica) muito maior do que se estivesse lidando com um toy-poodle. Não preciso ficar com raiva, devo é ser firme e saber o que estou fazendo e onde quero chegar. Quando me posiciono assim, ele entende, muda de atitude e segue. Suas tendências seriam "más" se tomassem o controle de uma situação que ele não pode dominar porque eu tenho que ser a , vivemos em cidade, há carros, pessoas e perigos que ele não pode entender. Se ele não confiar em mim e me seguir, ambos corremos riscos. Com este exemplo quero dizer que o mais inteligente e consciente tem que estar no comando (e nisso, sou platônica: o governo deveria ser dos filósofos, dos que possuem visão e conhecimento). Ao ver um comportamento errado, quem o sofre e se dá conta tem a obrigação te tomar uma atitude. Para o bem de todos.

Saber dizer "não" implica dar-se o direito de se proteger, de querer receber algo em troca e de ser feliz. Muitas vezes, essa "bondade", que como um tiro sai pela culatra, só se compreende quando se olha mais profundamente e se observa a auto-estima da pessoa. Baixa auto-estima busca aprovação dos outros, apoio, carinho e reconhecimento. E como pretende obtê-los? Dando! No fundo o super-bom, dá para poder receber carinho. Tem medo de estabelecer limites e de perder as pessoas, que porém não pode ganhar sem auto-respeito.

A busca inconsciente por amor e aprovação está na raíz daquela bondade que acaba por ser abusada pelos outros. É como uma pessoa que abre seu baú do tesouro na praia de Copacabana e sorrindo assiste ao corre-corre do povo agarrando e levando. O resultado final é esgotamento, depressão e solidão. Então, se alguém está se aproveitando de você é porque você está permitindo. Não reclame. Tome atitude. Na verdade, a crise que nasce da realização de que aproveitaram de nós é a crise existencial pela forma como temos conduzido nossa vida.

Amor: é o que é

Adriana Tanese Nogueira

http://www.psicologiadialetica.com/


Amor é algo do qual se fala muito, e se vive sonhando com ele. Todos, não há uma só criatura humana, que não busque amor. Filmes, fantasias, propaganda e histórias de todos os tipos têm no amor seu principal personagem. Entretanto, quantos podem clamar ter realizado o sonho? Ter incorporado o amor e estar vivendo-o aquele amor que idealizaram?

Amar na verdade é complicado. Cria problemas, tira da zona de conforto, confunde e, não último, dói. E pode doer mais do que dor de dente, muito mais do que dor de parto. O amor, quando não é um encostar-se no outro, um ter pena de si e/ou do outro, uma troca de favores e interesses em comum, dá trabalho. E muito trabalho.

Porque o amor não é uma escolha. Ele simplesmente acontece. Não se ama algúem porque
a pessoa é rica, bonita, têm os mesmos interesses que a gente, tem pais semelhantes aos nossos, pertence ao nosso grupo de amigos, tem nossos hábitos, é forte, dócil, etc. Se ama por que se ama. Ponto. É conveniente? Às vezes não. É fácil? Nem sempre. Dá paz e tranquilidade de espírito? Deixo a vocês a resposta.

O amor pode ser um cheque mate para o ego. Ego e amor têm, aliás, uma relação conturbada. É aí que entra o arregaçar as mangas. O amor quando vem é como uma luz que brilha na escuridão. É enxergar entre as névoas o potencial, a terra encantada. Chegar lá, se estabilizar lá e criar um mundo sólido e estável é por conta do ego, ou seja, de cada um de nós. É o trabalho individual, o investimento de tempo e energias que faz a diferença.

Amor não é um produto que, se for defeituoso, devolve-se para a loja. Quando o amor pega, não larga, não há acetona para tirar a mancha, não há botão de "delete". As pessoas que buscam o amor para encontrar conforto e alguém que cuide delas serão as primeiras a se desesperar. O sonho de chegar em casa e encontrar paz, abracos que acolhem, sorrisos que se abrem e muito carinho é a promessa. Depende de você realizá-la, porém. Aliás, depende de duas pessoas. Não cai do céu.
Há uma poesia belíssima que apresenta o amor nu e cru, sem véus e sem marketing. Aquele amor que é uma pedra no sapato, mas também glorioso, potente e enternecedor.


É O QUE É
de Erich Fried

É absurdo
diz a razão
É o que é
diz o amor

É infelicidade
diz o calculo
É somente dor
diz o medo
É vão
diz o juízo
É o que é
diz o amor

É ridículo
diz o orgulho
É atrevido
diz a prudência
É impossível
diz a experiência
É o que é
diz o amor
 
(tradução minha)

Dedico essa poesia a todos os que têm coragem e humildade para amar.

O ESPELHO DE GANDHI

Perguntaram a Mahatma Gandhi quais são os fatores que destroem os seres humanos. Ele respondeu:
A Política, sem princípios; o Prazer, sem compromisso; a Riqueza, sem trabalho; a Sabedoria, sem caráter; os negócios, sem moral; a Ciência, sem humanidade; a Oração, sem caridade
.
A vida me ensinou que as pessoas são amigáveis, se eu sou amável,
que as pessoas são tristes, se estou triste,
que todos me querem, se eu os quero,
que todos são ruins, se eu os odeio,
que há rostos sorridentes, se eu lhes sorrio,
que há faces amargas, se eu sou amargo,
que o mundo está feliz, se eu estou feliz,
que as pessoas ficam com raiva quando eu estou com raiva,
que as pessoas são gratas, se eu sou grato.
A vida é como um espelho: se você sorri para o espelho, ele sorri de volta.
A atitude que eu tome perante a vida é a mesma que a vida vai tomar perante mim.
 
"Quem quer ser amado, ame”.